No mês do folclore, conheça um pouco da história de dona Maria Padeiro e dona Traíra, Patrimônios Vivos do Estado de Alagoas Coruripe
No mês do folclore, conheça um pouco da história de dona Maria Padeiro e dona Traíra, Patrimônios Vivos do Estado de Alagoas
Texto: Salmom Lucas| Fotos: Roberto Miranda e Cidcley Ferreira
Dona Maria Padeiro é oficialmente, desde 2006, Patrimônio Vivo do Estado de Alagoas. E em Barreiras, ela reina. Chegar em sua casa é fácil, todos a conhecem e sabem ensinar onde a veterana mora. E um dos principais motivos da fama é a sua importante contribuição à cultura do município, há mais de 50 anos.
O sobrenome artístico de Maria José dos Santos é por causa do seu falecido marido, que era padeiro. Mas ela é conhecida mesmo pelo grupo Baianas Praieiras, que fundou e lidera, desde a década de 60. O grupo é formado por dançadoras que, com vestes convencionais de baianas, dançam e fazem evoluções ao som de instrumentos de percussão.
Em tempos normais, antes da pandemia, as apresentações aconteciam durante todo o ano, porém o folguedo tem uma representatividade folclórica mais atuante no mês de janeiro, especificamente no dia 20, data da festa de São Sebastião, padroeiro de Barreiras.
Dona Maria Padeiro começou a dançar baianas por volta dos seus 20 anos e, também, outros ritmos, como pastoril e caboclinha. Seu pai dançava coco de roda e foi ele que a incentivou nas danças. Aos 75 anos, é a mais velha do grupo atualmente, que se renova ao longo dos anos. “Morreu uma parte das meninas que dançavam e aí tem que chegar gente nova”, explica.
O Baianas Praieiras é constituído por 12 integrantes, sendo 10 dançadoras e dois tocadores. Segundo sua fundadora, não tem restrição de idade e a mais nova tem “entre 25 e 28 anos, por aí”. Uma das integrantes é a sua filha, Betânia dos Santos, que ajuda a mãe na coordenação do grupo.
Betânia herdou o gene da cultura do avô, da mãe e passou adiante para a filha, também engajada e comprometida com as tradições de Coruripe. Além do Baianas, ela comanda uma quadrilha junina chamada Os Pestinhas, que já existe há 26 anos. Formou ainda o grupo de xaxado Asa Branca, criado em 2006.
“Gosto de trabalhar com cultura. Está no sangue, né? E não é por dinheiro, pois não recebo nada por isso. Faço por livre e espontânea vontade e muitas vezes gasto até do meu bolso pela vontade de ver a quadrilha junina se apresentado, o xaxado… Em época de São João mesmo, que é a minha preferida, enfeito a casa, faço fogueira, danço pela casa. Faço questão de manter as tradições e de ajudar a manter a cultura do meu município viva”, afirmou.
Sua filha Juliana dos Santos, neta de dona Maria Padeiro, segue os mesmos passos e montou o grupo Baianas Mirins. Professora de educação física da rede municipal de ensino, começou a desenvolver um projeto de dança com as crianças.
Assim como o grupo original, o Baianas Mirins também tem 12 integrantes e já se apresentou nas escolas do município, praças e demais eventos que aparecem. “É a nossa família dando continuidade e renovando as tradições. E isso, para mim, é motivo de muito orgulho”, refletiu Betânia.
Família Mané do Rosário
No Poxim, coordenando o grupo Mané do Rosário, está a Dona Traíra, outro Patrimônio Vivo do Estado de Alagoas e que, na verdade, atende pelo nome de Maria Benedita dos Santos. Aos 66 anos, ela dança desde criança e a tradição foi repassada pela avó dona Josefa e seus pais, que também dançavam o folguedo.
O Mané do Rosário é um tipo de folguedo constituído por mulheres e homens mascarados que dançam, pulam e requebram ao som da Banda de Pífanos. Diz a lenda, nas palavras de dona Traíra, que na época da Festa de São José, que acontecia durante nove noites, aparecia uma pessoa misteriosa que dançava compulsivamente. Quando a festa do padroeiro chegava ao fim, a figura simplesmente sumia sem deixar rastro.
“Uma vez perguntaram qual era o nome dele e ele respondeu ‘Mané’. Aí, na mesma hora, alguém falou “do Rosário” e assim ficou”, explica ela.
Atualmente o grupo conta com 30 integrantes. A mais velha é a dona Traíra e a mais nova, tem apenas 10 anos. Mas um detalhe que chama a atenção: são todos seus filhos, netos e bisnetos que integram o Mané do Rosário e mantêm vivo o folguedo secular.
“O Mané significa a melhor coisa da minha vida. É uma tradição que veio da bisavó da minha bisavó, que foram passando de geração para geração até chegar em mim e eu hoje, passo adiante. Sinto uma coisa boa porque é da família, uma riqueza que Deus me deu”, contou ela.
Apesar dos laços familiares que formam o grupo, ela garante que qualquer um pode fazer parte do Mané do Rosário: “É só falar comigo”.
É Dona Traíra que também faz as vestimentas. “Eu passo o dia todo sentada aqui”, apontando para a máquina de costura. “Vou dormir 10, 11 da noite costurando. Quando tem uma viagem para nos apresentarmos, eu mesmo compro os panos, chapéus de palha, bambolês, enfeites e depois trabalho na costura”, relata.
O Mané do Rosário é apreciado com orgulho pela população do Poxim. Uma das entusiastas é dona Cícera da Conceição. “Sempre quando tem apresentação, eu vou lá ver com a minha família. Acho muito bonito e divertido também. Meus netos gostam mais ainda, principalmente dos palhaços”, destacou.
Seu José dos Santos é outro, que também aplaude o folguedo. “Eu lembro da dona Traíra ‘mocinha’ ainda no Mané do Rosário. Isso é uma benção para a nossa cultura, quando tem apresentação não deixo de ir olhar”.
O Mané é composto por dois palhaços, pifeiros e as “bailarinas”. Um dos palhaços é neto dela, Wellington José dos Santos, que tem 20 anos e começou a participar quando tinha apenas 10. “Me interessei em fazer parte ao ver minha mãe, vó e irmãos no grupo. Então comecei a frequentar e fazer o papel de palhaço”, conta.
Ver toda a família envolvida, para Dona Traíra, é motivo de muita alegria. “Para mim é uma satisfação enorme a minha família manter hoje essa tradição, tradição que é valorizada pelo pessoal do Poxim, em Coruripe e em todo estado também. Não é por acaso que o Mané é Patrimônio Vivo do Estado”, diz orgulhosa.
Grupos culturais ativos
Mas Coruripe não conta apenas com o Mané do Rosário e o Baianas Praieiras. Atualmente o município possui 13 grupos culturais ativos, que são Baianinhas Raios de Sol (Barreiras), Zumbi Capoeira (Centro), Quadrilha Junina Dona Fulana (Centro), CIA de Dança Fulanos (Centro), Bloco as Pecadoras (Pontal), Xaxado Asa Branca (Barreiras), Grupo Liberdade Capoeira (Botafogo), Coco de Roda Cultivando Raízes, Caboclinhas do Pontal, baianas do Pontal e Xaxado Cultivando Raízes.
Desses, o mais recente é o Coco de Roda Cultivando Raízes. Fundado em março de 2018 pela Secretaria Municipal de Cultura, foi fortalecido em 2019 por meio de uma parceria com a Secretaria do Estado da Cultura (Secult), que teve como objetivo fomentar a cultura popular do coco em Coruripe. Desde então, vem desenvolvendo um trabalho importante de preservação da cultura regional do município.
Cultura em ação
No mês do Folclore, comemorado no dia 22 de agosto, a Prefeitura de Coruripe preparou uma programação especial para celebrar a data. O Cultura que Encanta Coruripe trouxe a Mostra Coruripe Dança e Festival Cultural, levando dança, música e alegria para diversos pontos do município.
Além disso, no atual contexto de pandemia, a Prefeitura tem lançado editais voltados para músicos, dançarinos e grupos, interessados em participar em projetos culturais direcionados aos trabalhadores da cultura que tiveram as suas atividades prejudicadas.
As apresentações desses projetos são transmitidas, ao vivo, pelo canal oficial da Prefeitura de Coruripe no YouTube e já acumulam mais de 40 mil visualizações.
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Secom Coruripe
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