De Lagoa às favelas: Raimundo Batista guarda lembranças da metrópole em esculturas de madeira Cultura
Coloridas, as peças artísticas são reconhecidas em várias galerias ou lojas de arte espalhadas pelo Brasil.
Bruno Presado*
“Não sei o que é infância. Quando meu pai faleceu, saí daqui, ainda novinho, em direção a São Paulo para ajudar no sustento da casa. Minha mãe era uma guerreira, cuidou de 16 filhos, passou fome, mas nunca parou de buscar por algo. Na fábrica de sapatos, peguei escondido algumas sobras de materiais, os saltos para confecção de modelos “Anabela”, no latão de lixo para inventar peças artísticas. Era meu hobby, e virou profissão”. Árdua. Cansativa. De sol a sol, sem esmorecer. Dificuldade? Nada disso. Uma palavra desconhecida no dicionário mais articulado de Raimundo Batista. Inspiração para sua formação artística, e humana.
O artesão não parou por aí. De cima a baixo, seguiu. De cabeça erguida. Abandonou a fábrica, e voltou a Alagoas. Aqui, para o sustento, precisou escolher algumas peças artísticas a dedo, colocou em um carrinho de doce, bem simples, e passou a vender pelas ruas de Arapiraca. “Um dia, um historiador [Zezito Guedes] me parou no meio da rua para perguntar sobre o processo de produção das máscaras. Na época, ainda no início, usava formas de cimento ou de madeira para construção das máscaras.” De Zezito, que também é artista, Raimundo recebeu o incentivo. Um empurrão para ir além.
Raimundo não esquece das encostas e dos edifícios empilhados. Pesadelo. São Paulo é tudo, menos cinza. Selva de pedra. Ingratidão com quem quer crescer, gentileza aos poucos. Contados nos dedos. Na cabeça, nenhuma saudade. Nas mãos, a inspiração. Favela é a marca registrada de Raimundo. “Em trinta anos, funcionei feito um computador e, por isso, armazenei aquilo que vi para levar as minhas obras. Quando alguém pergunta o nome de alguma peça, dou na mesma hora. Criatividade para qualquer peça. Nunca parei de esculpir por isso”, explica.
Um emaranhado de casas coloridas e sobreposições de edifícios em aglomerados urbanos. Cotidiano popular. Debruçados nas janelas, pessoas no olhar da cidade turbulenta. Ruas estreitas com carros e passantes pela metrópole. Essas são algumas das paisagens reconstruídas pelo artista Raimundo Batista. Coloridas, as favelas são reconhecidas apenas pelo relance em várias galerias ou lojas de arte espalhadas pelo Brasil.
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Essa e outras histórias de artesãos alagoanos, para o portal da Associação dos Municípios Alagoanos – AMA, são parte da série de reportagens para o Cidade e Gestores – Congresso e Expo, “Gestão Pública de Resultados: Inovação, Eficiência e Transparência, de 12 a 15 de dezembro, no Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso.
*Estagiário sob supervisão