História do povo nordestino é contada através dos passos das juninas estilizadas de Arapiraca Arapiraca
As narrativas se uniam em um contar de histórias que envolviam cinco autores nordestinos, dois já consagrados na literatura brasileira, como o pernambucano Ariano Suassuna e o cearense José de Alencar, e três pratas da casa, Edmílson Alcântara, Wellington Magalhães e Moisés Damasceno.
E dessa maneira foi contada a epopeia do povo nordestino com pedaços da cultura indígena, a monarquia do Rei do Quinto Império, o calor do cangaço, a romaria para Juazeiro do Norte para o encontro com Padre Cícero Romão Batista e todo o preconceito vivido por um povo trabalhador no Sudeste brasileiro.
Dentro de um contexto histórico e com a obra intitulada “Na noite de São João vamos nos divertir com a turma de Lampião”, a junina Mandacaru contou a história de amor proibido entre dois cangaceiros, Regina e Corisco, o Diabo Louro como era conhecido, sob a ótica do autor Moisés Damasceno.
Ao mesmo tempo em que Corisco assombrava o sertão e as volantes, ele se via apaixonado por uma das belas cangaceiras do bando de Lampião. No entanto, todo o grupo era contra esse romance, e a solução do Diabo Louro foi a de sequestrar Regina e, com isso, poder viver esse amor.
Regressando aos tempos áureos do império brasileiro, a quadrilha Dona Ciça pôs no tablado a obra de Ariano Suassuna “A Pedra do Reino: Um destino no reino do Novo Horizonte”, que conta um pouco da história de seus antepassados, através da personagem Dom Pedro Diniz Ferreira-Quadrena, o autoproclamado “Rei do Quinto Império e do Quinto Naipe”.
A adaptação da obra foi feita pelo ator e coreografo Dênio Silva, que nos trejeitos e detalhes mostrou a autobiografia do autor pernambucano.
A terceira da noite, a junina Lengo Tengo fez uma viagem ao passado, e de lá recontou a história, em passos juninos, de um amor que transcende as fronteiras entre a colônia e o colonizador português. “Iracema” é a obra-prima de José de Alencar, e a narrativa fala de uma índia que leva o mesmo nome e o guerreiro branco Martim.
Roberto Oliveira foi o responsável em dar vida a obra-prima do autor cearense na quadrilha junina do Bairro Brasília. Ela teve todo o enredo desenvolvido por Itinho Lima e Wicley Macedo.
O povo nordestino é mesmo apegado à fé, e é através dela que muitas pessoas alcançam suas graças.
Contando a história dos romeiros arapiraquenses que saem de suas residências e juntam suas economias para pagarem suas promessas na cidade do Juazeiro do Norte, a Canarraiá trouxe diretamente do Ceará, a imagem de Padre Cícero Romão Batista para abençoar os passos da sua junina nessa árdua jornada de peregrinação.
E o santo nordestino não só abençoou a quadrilha, mas deu a Wellington Magalhães a expertise para por no tablado uma história de grande comoção ao público que paga promessa nesse compasso de fé e compaixão.
Falando em peregrinar, por que não falar naqueles que deixam suas casas na esperança de uma vida melhor? Desses que deixam famílias e amigos para se aventurar em uma região, para ele, desconhecida.
Foi dessa forma que a Renascer do Sertão contou a história de Cidinho, um jovem nordestino que vai ao Sul do país em busca de trabalho, mas se depara com o preconceito regional, a chamada xenofobia.
Apesar da triste realidade vivida pelo povo nordestino, Edmílson Alcântara relata essa história com alegria e descontração através dos compassos e trejeitos dos noivos, reis e casais dessa junina que encerrou com chave de ouro o concurso de quadrilhas estilizadas de Arapiraca.
Texto: William Rocha;
Foto: Lucas Ferreira;