Na pandemia, atendimento de dependentes químicos aumentou 54% Municípios
No ano passado, os hospitais credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tiveram um aumento de 54% de atendimento de dependentes químicos, comparado a 2019. Para o Observatório do Crack da Confederação Nacional de Municípios (CNM), os números divulgados pelo Ministério da Saúde (MS) são consequência da Covid-19 e das medidas de enfrentamento ao vírus.
É fato que o novo coronavírus causou inúmeras mudanças sociais, e consequências irreversíveis. Dentre a parcela populacional vulnerável mais afetada estão os usuários de drogas. Os dados estão associados aos meses de isolamento social, observando-se um expressivo aumento no número de internações hospitalares decorrentes do uso de drogas ilícitas. Nunca foi registrado tamanho crescimento, nos últimos anos.
Contudo, os números representam um fenômeno ainda mais preocupante ao poder público municipal que vai da saúde à segurança pública. E um dos motivos para tal cenário é uma patologia que já estava em ascensão no Brasil e no mundo: a depressão. Ver-se obrigado a ficar recluso por longo período, somado ao medo de morrer, pode ter levado muitas pessoas a um quadro de estresse, de potencialização de vícios e do uso de drogas.
Desespero, medo, insegurança em relação ao emprego e renda familiar afetada. Essas e outras incertezas levaram muitas pessoas ao subterfúgio das substâncias químicas. Mas, isso não é novo, relatório produzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que as altas taxas de estresse associada a acontecimentos catastróficos, como a pandemia do coronavírus, induzem ao uso abusivo de medicamentos, de álcool e de drogas não lícitas.
Crises + drogas
Nos EUA, por exemplo, a crise financeira ocorrida, em 2008, desencadeou a mesma tendência – milhões de trabalhadores perderam emprego e passaram a usar mais drogas. O mesmo ocorreu com os atentados de 11 de setembro de 2001.
Outra situação que faz crescer o consumo de psicotrópicos é a restrição na circulação. Algumas pessoas acabaram de sair de um longo tratamento e após ficarem isolados por um período em clínicas especializadas, convivendo apenas com pessoas em situações similares à sua, não tinham ideia da gravidade da pandemia e, muito menos, do que os aguardavam do lado de fora. Ao sair, surgiu um novo quadro de ansiedade a ser enfrentado.
Repressão ao tráfico
De acordo com informações do Ministério da Justiça (MJ), a quantidade de drogas apreendidas nas fronteiras brasileiras multiplicou-se por doze em 2020. Mas, traficantes adaptaram-se ao “novo normal”. Para preservar as regras de distanciamento, traficantes da capital do Brasil criaram um sistema de drive-thru para fornecer cocaína e maconha aos usuários.
Para o Observatório do Crack, o problema com as drogas há muito tempo deixou de ser exclusivo de saúde pública. É uma questão multidisciplinar e que deve ser combatida e tratada de forma enérgica, estratégica e intensa, ainda mais agora, com uma pandemia em curso.