Transplantes de coração em Alagoas quadruplicam nos primeiros seis meses de 2019 Municípios
Agilidade no processo de captação tem facilitado a realização do número de cirurgias
Repórteres: Davi Salsa e Marcel Vital
Repórteres Fotográficos: Carla Cleto e Davil Salsa
O número de transplantes de coração em Alagoas quadruplicou nos seis primeiros meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2018. Os dados são da Central de Transplantes e apontam que, enquanto de janeiro a junho do ano passado foi realizado um procedimento, no mesmo período de 2019 quatro alagoanos receberam um novo coração.
Entre os alagoanos beneficiados com um novo coração nos seis primeiros meses deste ano, o ex-vendedor de peças automotivas, Dayvid Alexandre Santos, 31 anos, sofria de miocardia, ocasionada por febre reumática quando ainda era criança. Problema e saúde que só foi descoberto após sofrer um acidente de motocicleta no Centro de Arapiraca, há mais de quatro anos.
Levado às pressas ao Hospital de Emergência do Agreste, Dayvid Alexandre teve um derrame pleural, por conta da acumulação excessiva de fluido entre as membranas que envolvem o pulmão. “Fiquei dezenove dias na UTI e, quando saí de lá, tive de passar por uma cirurgia no quadril, cujo intuito era tratar de uma bactéria. Até receber alta médica, foram mais de três meses dentro do hospital”, lembra.
Ainda de acordo com o ex-vendedor de peças automotivas, durante o período de recuperação da cirurgia do acidente de motocicleta, ficou um ano tomando remédios para a miocardia, enquanto aguardava um transplante de coração. “Recebi muito carinho e atenção da equipe do Hospital de Emergência do Agreste, especialmente do médico-cardiologista Luciano Santos”, relata Dayvid Alexandre.
Da época do acidente até entrar na fila de espera por um transplante de coração, passaram-se mais de quatro anos, tomando medicamentos para estabilizar a miocardia. A esposa Mayra Oliveira, que atualmente trabalha como gerente de um salão de beleza na cidade, conta que foi um período de muita ansiedade e esperança.
“A equipe médica da Santa Casa de Maceió, onde o transplante foi realizado, ficava sempre em contato com a gente e, toda vez que o telefone tocava, eu tremia da cabeça aos pés. Finalmente no dia 6 de fevereiro deste ano, nos ligaram para avisar que havia surgido um doador: um jovem de 21 anos que teve morte cerebral, após um grave acidente automobilístico na capital alagoana”, recorda a esposa do ex-vendedor de peças automotivas.
O Procedimento – Após receberam o telefone, eles viajara de Arapiraca para Maceió, onde foi internado na Santa Casa para ser submetido ao procedimento. “Fomos para Maceió no final da tarde e a cirurgia foi feita na madrugada pela equipe do médico José Wanderley Neto e dos cirurgiões Diego Rafaela. O procedimento foi um sucesso, passei nove dias na UTI e hoje posso dizer que ganhei uma vida nova”, acrescenta Dayvid Alexandre.
Ele acredita que o caso comovente da morte da jovem Ana Karolina Gama, que residia em Palmeira dos Índios e passou mais de um ano à espera de um transplante de coração, sensibilizou a sociedade acerca da importância da doação de órgãos para salvar vidas. “Lembro que nessa época o tema doação de órgãos foi muito discutido, o que me ajudou”, salienta.
Além da esposa Mayra Oliveira, o jovem transplantado curte sua vida nova ao lado do filho Gabriel, de sete anos de idade, e da mãe Luzivanda Oliveira, que mora no estado de Sergipe e adotou Arapiraca como a sua segunda casa, com o propósito de acompanhar o tratamento e a recuperação do filho. “Temos muita fé em Deus e sabemos que tudo que aconteceu comigo deve ser porque Ele tem um propósito importante na minha vida”, afirma Dayvid Alexandre.
De acordo com Eleonora Carvalho, coordenadora de enfermagem da Organização de Procura de Órgãos (OPO), doar órgãos é o maior ato de solidariedade, pois o doador tem o poder decisivo de salvar outras vidas. “Trata-se de um processo bem reflexivo, já que de um lado a família perde uma vida e do outro se ganha uma vida. O importante é que o futuro doador tenha um diálogo bem claro com a família sobre o desejo de doar, pois o poder está nas mãos dos familiares, já que não há necessidade de um documento que comprove a intenção da pessoa, basta que ela deixe isso claro entre seus familiares, ou que estes estejam de acordo com o procedimento”, disse.
Outros transplantes – Ainda de acordo com a Central de Transplantes de Alagoas, entre janeiro a junho deste ano, também foram realizados 14 transplantes de córnea e quatro de rim. Uma realidade que se deve à agilidade do diagnóstico preciso, feito pela equipe da unidade hospitalar que diagnostica a morte encefálica, aliada à rapidez nos procedimentos que são determinantes para a captação de órgãos e tecidos, além do aumento da conscientização da população para se declarar doador em potencial.
Em Alagoas, atualmente 211 pessoas estão na fila de espera para receber um rim, uma para ser contemplada com um novo coração e outras 214 aguardam por uma córnea. “Nosso trabalho é realizado para assegurar que todo o processo de captação de órgãos seja realizado com eficiência e transparência. Lutamos para conscientizar a população de que, mesmo em meio à dor de perder um ente querido, a doação de órgãos é um gesto importe para quem precisa de um novo coração, rim, córnea ou fígado”, salienta a coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas, Daniela Ramos.